Discurso do Presidente da República na 2ª Bienal de Luanda

 In Diplomacia, Politics

Discurso de Sua Excelência o Presidente da República de Angola, João Lourenço, na 2ª Edição do Fórum Panafricano para a Cultura de Paz – Bienal de Luanda

Sua Excelência Félix Tshisekedi, Presidente em Exercício da União Africana e Presidente da República Democrática do Congo; 

 Sua Excelência Denis Sassou Nguesso, Presidente da República do Congo; 

 Sua Excelência Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República Portuguesa; 

 Sua Excelência Carlos Vila Nova, Presidente da República de São Tomé e Príncipe;  

 Excelência Senhora Vice-Presidente da República da Costa Rica;  

 Excelência Senhor Vice-Presidente da República da Namíbia;  

 Senhor Representante do Presidente da República de Moçambique;  

 Senhora Josefa Sacko, em representação da Presidente da Comissão da União Africana, Moussa Fakhi Mahamat; 

Senhora Representante do Secretário Geral da Organização das Nações Unidas;  

 Senhor Xing Qu, Diretor Geral Adjunto da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, UNESCO. 

 Minhas Senhoras, Meus Senhores 

 É com profundo regozijo que tomo a palavra na presença de ilustres Chefes de Estado e de Altos Representantes da União Africana e da UNESCO, que nos concedem a honra de participar na inauguração da segunda edição do Fórum Panafricano para a Cultura da Paz – Bienal de Luanda 2021.  

 Permitam-me desejar-vos as nossas boas-vindas a Angola, em cuja capital, Luanda, teremos os próximos dias a oportunidade de fazer uma reflexão sobre temas que nos podem ajudar a construir os caminhos da Paz e da Harmonia entre os Povos e as Nações. 

 Registo com satisfação o facto de estarem presentes, entre nós, delegações provenientes de vários países do nosso continente e algumas de outros quadrantes, que quiseram contribuir para o aprofundamento do debate sobre o tema da Paz, uma questão central a nível global nos tempos que correm . 

 Após a Bienal de 2019, ocorreram factos que ninguém anterior e de que destaco a Covid-19, que condicionou em grande escala a execução dos planos de ação concretizada e que nos colocamos diante da necessidade de reexaminarmos, com realismo, como anteriormente anterior delineadas e adequá-las à conjuntura reais.  

 É importante procurar perceber-se como reais causas do clima de conflitualidade ainda reinante em África, após um percurso de pouco mais de seis décadas de construção das independências e sóbrias dos países do continente, para que, em função disso, encontremos as fórmulas que nos levem a sair mais rapidamente da situação de incerteza e instabilidade com que nos deparamos. 

 Impõe-se que reconheçamos a necessidade imediata de um esforço geral para se estancar o eclodir recorrente de conflitos de diversa natureza, que se seleciona em fatores de instabilidade e num forte entrave ao progresso e ao desenvolvimento do continente.  

 Excelências, 

 Minhas Senhoras e Meus Senhores, 

 A República de Angola é um exemplo de país assolado por um conflito armado que perdurou por décadas mas que conseguiu encontrar os caminhos da paz duradoura e projectar, em condições de estabilidade, a construção de uma sociedade democrática em que impera o perdão, a reconciliação, a tolerância, e o sentimento de solidariedade para com os povos do nosso continente, que ainda enfrentam conflitos de armados e suas consequências.  

 Definimos uma linha de conduta interna em que impusemos, a nós próprios, a cultura da paz e da tolerância a todos os níveis da sociedade angolana, para que fique definitivamente excluído da nossa realidade o espectro da guerra.  

 É com este espírito, resultante das conquistas políticas em prol da unidade nacional, que queremos continuar a consolidar a paz ea reconciliação nacional e avançar para o progresso económico e o bem-estar social.   

 A juventude africana deve constituir o fulcro de todas as estratégias voltadas para a paz e ser o ponto de partida e de chegada de toda a pedagogia que se leve a cabo para se serenar os espíritos mais propensos à conflitualidade e à violência. 

 Promovamos as iniciativas que envolvam as famílias, as escolas, as políticas políticas, as instituições religiosas ea sociedade em geral, no esforço da consciencialização dos jovens africanos para a cultura da paz, do respeito pela Lei e a Constituição, do respeito pelas instituições democraticamente eleitas. 

Excelências, 

Minhas Senhoras e Meus Senhores, 

 Esta segunda edição da Bienal de Luanda está a mais próxima de concretizar o objectivo de constituir-se numa plataforma de referência que agrupa governos, sociedade civil, comunidade artística e científica, o sector privado e as associações internacionais, no resgate e manutenção da paz, e na prevenção de conflitos e da violência. 

 A Bienal de Luanda transforma-se, assim, numa aliança de parceiros, onde se congrega governos, agências das Nações Unidas, a União Africana, a União Europeia, os membros da organização dos Estados da África, Caraíbas e Pacífico, as universidades e associações não-governamentais, associados num esforço comum de promoção da paz, tendo na cultura o seu principal suporte para a realização dos objetivos que traçou, pois trata-se de uma vertente que ajuda a construir pontes entre povos e nações, pela linguagem de entendimento fácil que nos oferece a todos.  

 Com base nos seus valores culturais próprios, em que se exprimem pessoas de diferentes gerações, através da música, do teatro, da dança, das artes, do desporto e de outras manifestações culturais, os povos estabelecem entre si um diálogo intergeracional e intercultural ao nível das nações, o que cria um espaço de convivência, de compreensão e de entendimento entre todos, e consagra a importância da preservação da concórdia, da amizade e do respeito pelas diferenças.  

 Excelências, 

 Minhas Senhoras e Meus Senhores, 

 Somos um continente com uma vasta população jovem e com uma ampla e diversificada riqueza cultural, onde o traço de união singular consubstancia-se na nossa forma alegre de viver e de estarmos juntos, sempre em sã convivência. 

 Estamos assim perante um conjunto de características das nossas gentes, que encerram um enorme manancial de sabedoria que deve servir de base para a construção de uma mentalidade resolutamente comprometida com a paz e o progresso do nosso continente.  

 A peculiaridade demográfica africana, que se expressa, tal como já referi, através de uma população maioritariamente jovem, coloca aos poderes públicos um conjunto de desafios ea necessidade de respostas e soluções que atendem e satisfazem os anseios e as preocupações desta camada vital das nossas sociedades .  

 Mesmo quando se está atento a estes fatos, nem sempre é possível com a urgência que, por exemplo, encontrarem-se as vias e os meios para solucionar os problemas que são anteriores a cada dia, devido a um conjunto de limitações de vária ordem dificilmente superáveis no contexto das nossas economias, em que os recursos, apesar de abundantes, estão às vezes inadequadamente ao serviço do desenvolvimento nacional ou então sujeitos às condicionantes que o mercado internacional impõe.    

 Importa sabermos identificar com objectividade as causas reais das nossas dificuldades, os caminhos a trilhar e os parceiros relacionados em apoiar o desenvolvimento de África.  

 Em todo este esforço, devemos continuar a trabalhar na electrificação e industrialização do nosso continente, melhorar as infraestruturas no geral, aumentar a oferta de bens e serviços para as nossas populações, aumentar a oferta de postos de trabalho para os jovens, cumprir como necessidade em matéria de ensino e formação, para prosperarmos de maneira sustentável como países e como continente. 

 É minha convicção que, com perseverança, podemos alcançar este nível de satisfação das nossas necessidades e avançarmos para uma etapa em que a África que queremos, sem precariedade e com maior previsibilidade, nos proporcionamos uma vida em paz com cada um de nós mesmos, se torne atractiva, inclusiva e resiliente, e que privilegie o diálogo ao conflito, por forma a que cada indivíduo se transforme naturalmente num agente promotor da paz colectiva.  

 Excelências, 

 Minhas Senhoras e Meus Senhores, 

 Muitos dos filhos de África têm vindo a abandonar o continente em condições desumanas e com o risco de suas próprias vidas ao fugir das zonas de conflito ou na procura de emprego e de melhores condições de vida.  

 Independentemente da sua idade, formação académica ou profissional, todos eles são importantes e localizada para o desenvolvimento do nosso continente.  

 Temos sempre uma expectativa de que um dia regressem voluntariamente com o desejo de contribuir, no sentido de se alavancar o progresso e o desenvolvimento em todos os setores da vida nacional africana.  

 Este passo marcaria o reencontro com as suas terras, as suas gentes, para que, num abraço fraterno à pátria que os viu nascer, enfrentarem o desafio de ser protagonistas do progresso e do desenvolvimento dos países.    

 Entre nós e a diáspora há um mar imenso que nos separa, mas que também pode servir de vetor de progresso económico e de transformação social das comunidades ribeirinhas e do país em geral, pelo potencial que oferece em termos de recursos altamente valiosos para as economias africanas, onde a extensa costa marítima do nosso continente nos oceanos Atlântico e Índico nos colocam em posição de liderança para a difusão de boas práticas no âmbito do desenvolvimento da economia azul. 

 Este é um domínio para os quais os membros da diáspora que têm valências nesta área podem ajudar os seus países -e por esta via o continente em geral-, a definir e implementar de preservação e utilização sustentável dos recursos marinhos e de proteção da costa, muitas vezes afetada pelas mudanças climáticas. 

 Precisamos de encontrar e aplicar com sabedoria, coragem, unidade e sentido patriótico, uma fórmula que colocará os nossos abundantes recursos humanos de dentro e da diáspora, os recursos minerais, florestais, hídricos e outros, ao serviço do real desenvolvimento económico e social do continente , ombreando com a prosperidade de outros continentes.   

 Excelências, 

 Minhas Senhoras e Meus Senhores, 

 Angola tem vindo a aprender a lidar cada vez melhor com as diferenças, num contexto democrático em constante evolução e aprofundamento. 

 É nesta atmosfera que vos quero desejar uma boa e produtiva estadia em Luanda, para que esta Bienal seja um sucesso digno de registo, com impacto benéfico e duradouro no nosso continente e em toda a Humanidade. 

 Declaro, assim, aberta na segunda edição do Fórum Pan-africano para a Cultura de Paz – Bienal de Luanda 2021. 

 Muito obrigado pela vossa atenção.

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