Inauguração da Agência Espacial Africana e o Interesse de Angola

Inauguração da Agência Espacial Africana e o Interesse de Angola
POLITICS
  21-4-2025

Foi inaugurada neste domingo, 20, no Cairo, Egipto, a sede da Agência Espacial Africana, com Angola tendo um papel de destaque na cerimónia, ocupando nada mais, nada menos que 15 minutos em discursos, numa programação que incluiu os principais players da indústria espacial mundial.

Mas por que esse interesse pelo o que Angola tem a dizer sobre o sector espacial?

Angola projectou uma Estratégia Espacial Nacional (2016-2025) ambiciosa e que vem dando resultados.

O Livro Branco das Telecomunicações 2023–2027, que orienta a Política Espacial Nacional de Angola, dentre vários outros itens, determina o desenvolvimento de infraestruturas espaciais modernas e resilientes, assegurando a continuidade de serviços essenciais, como comunicações, observação da Terra, navegação e meteorologia.

No quesito infraestruturas, Angola possui um Centro de Controlo e Missão de Satélites, construído de raiz, na Funda, com capacidade de operar até três satélites em simultâneo, responsável por operar, actualmente, o ANGOSAT-2, o satélite de telecomunicações angolano, uma garantia de soberania e segurança nacional.

No MCC foi instalada uma antena da banda Ka de 7.5 metros de diâmetro para os testes em órbita. Tendo em conta que a missão do ANGOSAT-2 é específica, a antena instalada tem também características técnicas específicas que a torna na única infra-estrutura à nível da África Austral que pode ser utilizada para testes em órbita, de satélites na órbita geoestacionária que possuem frequências na banda Ka (17 a 30 GHz).

Toda essa estrutura é operada a cem por cento por técnicos nacionais, formados pelo Governo angolano nas melhores universidades aeroespaciais do mundo, que hoje, desenvolvem, igualmente, produtos e serviços que utilizam tecnologia espacial, drones e inteligência artificial, aplicações estas inclusive premiadas à nível internacional.

Angola tem reconhecido o carácter transversal e estratégico do sector espacial, pelo seu contributo directo para múltiplos sectores da economia, desde as telecomunicações à agricultura, passando pela gestão de desastres e monitorização ambiental.

No âmbito do Programa de Observação da Terra, em cooperação com o Instituto Norte-Americano de Tecnologia de Massachusetts (MIT - Massachusetts Institute of Technology), o Gabinete de Gestão do Programa Espacial Nacional (GGPEN) desenvolve uma plataforma que monitora o fenómeno da seca no sul de Angola, ajudando na tomada de decisão, financiado pela NASA.

O GGPEN contribui também para o monitoramento ambiental na costa angolana através de imagens de satélite. Só do período de 2023 a 2024, 89 manchas foram analisadas, onde 31 foram identificadas como possíveis derrames de petróleos através da plataforma Tech-Ecologia, e reportados ao órgão competente.

As contribuições transcendem o sector ambiental e petrolífero, alcançando outros sectores do tecido económico nomeadamente o sector mineiro, o sector agrícola e das finanças, onde neste último, a identificação de residências a partir do espaço contribui para a estimativa de arrecadação do imposto predial urbano.

Todos esses esforços estão a ser notados pelo sector espacial à nível mundial, tanto que no ano passado, Luanda transformou-se por alguns dias, na capital espacial africana, sediando o evento NewSpace Africa 2024, que reuniu mais de 259 organizações e contou, pela primeira vez, com a participação das principais agências espaciais do mundo.

Não existe desenvolvimento sem investimento em tecnologia. E a tecnologia espacial é uma importante aliada para o desenvolvimento de Angola e do continente africano, tendo em conta desafios, como por exemplo, a extensão territorial.

Neste quesito, Angola vem se afirmando no sector espacial, tornando-se um parceiro relevante, agora, também à nível da AfSA, para ajudar a moldar o futuro espacial do continente.

Futuro este bilionário. Até 2026, a economia espacial africana está projectada para crescer 16,16% para USD 22,64 bilhões. Até Junho de 2023, 15 nações africanas (incluindo três satélites multilaterais) investiram mais de USD 4,71 bilhões em 58 projectos de satélite.

As projecções indicam que até 2035, a economia espacial pode se expandir para USD 1,8 trilhão, impulsionada por avanços na tecnologia de satélites, serviços de lançamento e aplicações espaciais.

Toda essa indústria conta agora com uma organização à nível de África que visa eliminar duplicações e ineficiências no ecossistema espacial africano, com Angola já sendo vista como detentora de um Programa Espacial a se ter em conta no momento da tomada de decisão.