Exaltados feitos de Nsaku ne Nvunda e Kimpa Vita

Exaltados feitos de Nsaku ne Nvunda e Kimpa Vita
POLITICS
  9-1-2025

Os feitos de duas figuras históricas do Reino do Kongo, nomeadamente o primeiro embaixador negro africano acreditado no Estado do Vaticano, em 1608, Nsaku Ne Nvunda, e a profetisa Kimpa Vita, foram, quarta-feira, exaltados, em Mbanza Kongo, província do Zaire, durante uma palestra realizada no quadro da celebração do Dia da Cultura Nacional.

A palestra subordinada ao tema “A importância e valorização da cultura Kongo” foi proferida pelo docente universitário Zolana Avelino, no II Edifício do Governo do Zaire e visou levar ao conhecimento da juventude e não só, das diferentes facetas de manifestações artísticas, mas também de alguns protagonistas da cultura Kongo.

A palestra contou com a presença do governador do Zaire, Adriano Mendes de Carvalho e do bispo da Diocese de Mbanza Kongo da Igreja Católica, Dom Carlos Vicente Kiaziku.

Segundo o prelector, a abordagem sobre as figuras de Nsaku Ne Nvunda e Kimpa Vita visa valorizar cada vez mais as outras vertentes da manifestação da cultura Kongo, uma vez que, ela não se limita, tão-somente nos aspectos materiais imateriais, mas também nos seus protagonistas.

“A abordagem feita sobre as duas figuras, visa valorizar, cada vez mais, outras manifestações culturais, ou seja, toda inteligência ou abordar a cultura na sua definição mais abrangente, não se limitar somente nos aspectos materiais, manifestações artísticas e outras, razão pela qual, optamos por enaltecer aqui duas figuras históricas, nomeadamente a de Nsaku Ne Nvunda e de Kimpa Vita”, acrescentou. De acordo com Zolana Avelino, Nsaku Ne Nvunda, baptizado pelos portugueses como Dom António Manuel Nvunda, foi o precursor da diplomacia africana na Europa e o primeiro embaixador negro acreditado no Estado do Vaticano, em 1608, que na altura ocupava um lugar semelhante ao dos Estados Unidos da América hoje.

“O Vaticano era o epicentro do poder no mundo, o que nos transmite de que, o Reino do Kongo tinha noção, ou seja, tinha uma percepção clara do equilíbrio de forças de relações no mundo, razão pela qual procurava tratar os seus assuntos de Estado, directamente, com o Vaticano, para que não dependesse, simplesmente, de Portugal enquanto intermediário, daí ter sido complicada a viagem de Nsaku Ne Nvunda ao Vaticano”, contou.

O também sociólogo, disse que Nsaku Ne Nvunda foi enviado ao Vaticano, primeiro para estabelecer relações diplomáticas, directamente, com o Vaticano que era o centro do poder naquela altura, mas também, defender determinados assuntos entre o Reino do Kongo e Portugal.

O tráfico de escravos que o Reino do Kongo havia perdido o controlo, contou, era um dos motivos da deslocação do Nsaku Ne Nvunda ao Vaticano, uma vez que, era necessário repor as coisas no seu devido lugar, daí a necessidade, também de enaltecer o seu perfil, porque era inteligente e poliglota naquele tempo, há documentos que dão este testemunho.

Quanto à profetisa Kimpa Vita, Zolana Avelino disse que os seus ideais fazem dela Mãe da Revolução da cultura Kongo, cujos feitos estão plasmados na sua pretensão de não só defender o aspecto religioso, mas também, a dignidade e a identidade dos povos africanos.

“Existe um extenso acervo bibliográfico relevante ao nível do mundo e de África que falam sobre ela. Ela é nosso património, é nossa cultura, porque a cultura não é somente determinadas manifestações, como danças, canções e outros, é mais abrangente. A cultura é toda inteligência, é toda produção de um determinado povo num determinado momento da história”, acrescentou.

As duas figuras abordadas na referida palestra, como frisou, demonstram que o passado do Reino do Kongo não se circunscreve, apenas, nas danças, nas máscaras, nas manifestações artísticas e ou culturais, mas também, produziu-se inteligência, tendo em conta a dinâmica que se reveste a cultura.